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Erros comuns

Erros comuns na abordagem da disfagia…

Autores: Mara Sarmento Costa e Cláudia Agostinho
Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

1º erro: Odinofagia e Disfagia não são sinónimos

Odinofagia, ou dor na deglutição, reflete inflamação esofágica, sugerindo esofagite infeciosa, induzida por fármacos, rádica ou cáustica. Disfagia significa sensação de dificuldade na passagem do alimento, que traduz disfunção da faringoesofágica. Distinguir estes conceitos poder-nos-á ser útil na abordagem diagnóstica do doente.

2º erro: Não inspecionar cuidadosamente o esófago durante a endoscopia

Após a colheita da história clínica, a endoscopia digestiva alta é o primeiro passo na abordagem da disfagia. Apesar de apenas haver recomendação quanto ao tempo de inspeção esofágica no que se refere ao Esófago de Barrett, o esófago é frequentemente esquecido – a intolerância do doente num exame sem sedação e a presença de secreções podem comprometer a sua observação.

3º erro: Não seguir os corretos protocolos de biópsias

Na suspeita de esofagite eosinofílica devem ser realizadas biópsias mesmo na presença de mucosa normal, o que pode ocorrer em 10-32%. Estão recomendadas pelo menos 6 biópsias do esófago distal e proximal. Na suspeita de Esófago de Barrett, as biópsias são igualmente mandatórias, seguindo o protocolo de Seattle, com biópsias aleatórias quadrântricas a cada 2 cm.

4º erro: Não reencaminhar o doente para estudo manométrico

Após a exclusão de lesões estruturais, doentes com disfagia esofágica devem realizar manometria para exclusão de distúrbios da motilidade, sendo que, atualmente, a manometria esofágica de alta resolução é o gold-standard no diagnóstico de acalásia. Por outro lado, há achados na manometria que se correlacionam com o risco de disfagia pós-fundoplicatura, pelo que esta avaliação não deve ser esquecida pré-cirurgia anti-refluxo.

5º erro: Não referenciar doentes com disfagia orofaríngea a consulta de Neurologia

Numa disfagia orofaríngea, na ausência de alterações estruturais, é frequente a associação com doenças neuromusculares. Nestes doentes a pneumonia de aspiração é responsável por elevada morbimortalidade, sendo a videofluoroscopia da deglutição o método mais sensível para detetar aspiração.

Referências

Bisschops R, et al. Performance measures for upper gastrointestinal endoscopy: a European Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) Quality Improvement Initiative. Endoscopy. 2016 Sep;48(9):843-64. doi: 10.1055/s-0042-113128. Lucendo AJ, et al. Guidelines on eosinophilic esophagitis: evidence-based statements and recommendations for diagnosis and management in children and adults. United European Gastroenterol J. 2017 Apr;5(3):335-358. doi: 10.1177/2050640616689525. Pouw RE, et al. Endoscopic tissue sampling – Part 1: Upper gastrointestinal and hepatopancreatobiliary tracts. European Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) Guideline. Endoscopy. 2021 Nov;53(11):1174-1188. doi: 10.1055/a-1611-5091.