A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) criou um Núcleo de Inteligência Artificial em Gastrenterologia (NIAG), um grupo dedicado a promover a aplicação responsável e científica da Inteligência Artificial (IA) na especialidade. O núcleo é coordenado por Miguel Mascarenhas, que destaca a importância estratégica desta iniciativa no panorama médico nacional.
Segundo o coordenador, “a criação do NIAG nasce de uma convicção muito clara: a de que a Inteligência Artificial está a transformar profundamente a Medicina e que a Gastrenterologia, pelo seu carácter fortemente imagiológico, é uma das áreas que mais pode beneficiar dessa revolução”. Nos últimos anos, refere, tem-se assistido a um avanço notável da capacidade computacional e das tecnologias de Deep Learning, que já permitem processar e interpretar imagens com níveis de precisão diagnóstica muito elevados. “Estas ferramentas não vêm substituir o médico, vêm potenciar a sua capacidade de decisão, libertando tempo e reforçando a qualidade dos cuidados prestados”, acrescenta.
O NIAG surge, assim, da vontade de organizar este movimento de inovação dentro da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, reunindo quem partilha o interesse de aplicar a IA à prática clínica e à investigação. O objetivo é criar um espaço estruturado, colaborativo e eticamente responsável, que garanta que Portugal acompanha e contribui ativamente para o avanço tecnológico da Medicina moderna.
O novo núcleo tem como missão aproximar a Inteligência Artificial da prática clínica e da investigação em Gastrenterologia. Entre os seus principais objetivos estão fomentar a investigação aplicada, desenvolvendo e validando modelos de IA em imagem médica, endoscopia, ecoendoscopia e colangioscopia; promover a formação e a literacia digital dos gastrenterologistas e de outros profissionais de saúde, preparando-os para trabalhar em contextos clínicos cada vez mais tecnológicos; criar sinergias entre a Medicina e a Engenharia, aproximando médicos, cientistas de dados e investigadores num diálogo verdadeiramente multidisciplinar; representar a SPG em redes e sociedades internacionais, posicionando Portugal como um parceiro ativo na área da IA aplicada à Gastroenterologia; e garantir que a utilização da IA se faz com rigor científico, responsabilidade ética e foco no benefício do doente.
Para Miguel Mascarenhas, o NIAG pretende ser “um ponto de encontro e de construção de conhecimento, onde a curiosidade científica, a competência técnica e o espírito colaborativo se unem para gerar impacto real”. O coordenador manifesta o desejo de que este núcleo contribua para elevar a Gastrenterologia portuguesa, tornando-a mais precisa, eficiente e inovadora, sem nunca perder a dimensão humana que é a essência da profissão. “O núcleo pretende impulsionar a Gastrenterologia portuguesa para um novo patamar de excelência, através da integração responsável e estratégica da IA, reforçando a precisão diagnóstica, a eficiência operacional e a capacidade investigacional da especialidade, sempre preservando a dimensão humana que caracteriza a medicina. Queremos produzir ciência sólida, formar profissionais preparados para o futuro e demonstrar que a tecnologia, quando usada de forma responsável, é uma aliada da prática clínica e não a sua concorrente”, afirma.
A relação entre a IA e a Gastrenterologia é, segundo Miguel Mascarenhas, “inevitável e profundamente complementar”. A especialidade é uma das que mais gera dados visuais e quantitativos, como vídeos endoscópicos, imagens ecográficas, registos histológicos e dados laboratoriais, precisamente o tipo de informação em que a IA demonstra o seu maior potencial. “A IA não substitui o raciocínio clínico, amplia-o. Permite-nos ser mais rápidos, mais assertivos e, em última análise, decidir melhor, porque liberta tempo e foco para aquilo que nenhuma máquina pode replicar: a relação médico-doente”, sublinha.