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Erros comuns

Erros comuns em rastreio de cancro coloretal

Rita Gomes de Sousa, MD.
Serviço de Gastrenterologia, Hospital da Luz de Lisboa

Não iniciar o rastreio de cancro coloretal aos 45 anos

Desde os anos 90, tanto nos EUA como na Europa, observa-se um aumento da incidência do cancro coloretal (CCR) nos grupos etários mais jovens. A maioria dos casos de CCR nos jovens é esporádica, sendo que 5% tem história familiar e menos de 5% ocorre no contexto de síndromas hereditários. Dados mais recentes demonstraram que a incidência de lesões avançadas entre os 45 e os 49 anos aproxima-se da dos 50 aos 59 anos e que os benefícios do rastreio ultrapassam potenciais complicações e custos. Desde modo, muitas sociedades aconselham o início do rastreio aos 45 anos (1).

Excluir do rastreio pessoas com mais de 74 anos.

Após os 74 anos, a idade de parar o rastreio deve ser decidida individualmente, tendo em conta as comorbilidades associadas, a realização e os resultados do rastreio prévio, a esperança de vida, o risco de CCR e a preferência do individuo, sendo consensual que não se deve fazer rastreio após os 84 anos. O benefício de rastrear entre os 74 e os 84 anos é maior nos indivíduos sem rastreio prévio e sem comorbilidades (2).

Não levar em consideração a história familiar de CCR ou de adenomas avançados.

Antes da decisão relativa ao rastreio de CCR é importante questionar o indivíduo sobre a história familiar de CCR ou de pólipos avançados nos familiares de 1º e 2º grau. Nesses casos, o único exame de rastreio indicado é a colonoscopia ótica, dada a maior probabilidade de existirem pólipos e a eventual carcinogénese acelerada. A idade de início do rastreio deve ser decidida em função do número de familiares afetados e da idade com que estes desenvolveram o cancro.

Menosprezar a importância dos pólipos serreados na carcinogénese do CCR.

Os pólipos serreados sésseis podem ser lesões precursoras do CCR, nomeadamente se com um diâmetro ≥ 1 cm ou com displasia. São lesões menos frequentes que os adenomas, mas até 42,9% dos pólipos serreados sésseis têm displasia. Surgem habitualmente de forma solitária no cólon direito. São mais difíceis de identificar por se apresentarem como lesões planas, de contornos mal definidos e com muco aderente. Qualquer pólipo serreado com um diâmetro ≥ 10 mm ou com displasia deve motivar a repetição de colonoscopia no espaço de 3 anos (3).

Repetir colonoscopia no espaço de 3 anos após remoção de 3-4 adenomas ou de um adenoma viloso em exame de rastreio.

Estudos recentes demonstraram que a presença de 3 a 4 adenomas com <10 mm de diâmetro e com displasia de baixo grau ou de histologia vilosa no exame de rastreio não aumenta o risco de lesão metacrónica nem está associado a maior risco de incidência e mortalidade por CCR comparado com o grupo sem adenomas. Assim, recomenda-se, neste caso, repetição de colonoscopia no espaço de 5 anos (3).

Referências

(1) Patel et al. Updates on Age to Start and Stop Colorectal Cancer Screening: Recommendations From the U.S. Multi-Society Task Force on Colorectal Cancer. Am J Gastroenterol 2022;117:57–69.
(2) Cenin et al. Calculation of Stop Ages for Colorectal Cancer Screening Based on Comorbidities and Screening History Clinical Gastroenterology and Hepatology 2021;19:547–555.
(3) Hassan Cesare et al. Post-polypectomy colonoscopy surveillance: European Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) Guideline – Update 2020. Endoscopy 2020; 52.