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Erros comuns

Neoplasias quísticas do pâncreas

Diana Ramos; Ana Caldeira
Serviço de Gastrenterologia,
Unidade Local de Saúde de Castelo Branco.

Neoplasias quísticas do pâncreas (PCN) são uma condição frequente e clinicamente desafiadora. A prevalência de PCN aumenta com a idade e estima-se que possam estar presentes em 2–45% da população. Além disso, o comportamento dos vários tipos de quistos difere, exigindo vigilância e abordagens terapêuticas diferentes.

A abordagem correta de neoplasias quísticas do pâncreas é, portanto, fundamental para detetar precocemente a progressão para malignidade, e por outro lado evitar o acompanhamento desnecessário e de longo prazo com procedimentos diagnósticos invasivos ou tratamento excessivo.

Apresentamos alguns erros frequentes e relevantes que podem ser cometidos no diagnóstico, vigilância e abordagem dos PCN.

1º erro

Colheita de história clínica Uma colheita adequada da história clínica e antecedentes pessoais do doente permite apurar a existência de história prévia de pancreatite. Perante um quisto pancreático num doente com história de pancreatite, um pseudoquisto (entidade benigna) deve ser considerado como uma das primeiras hipóteses de diagnóstico.

2º erro

Confiar apenas na análise do fluído do quisto para diagnosticar o tipo específico de PCN Embora o antígeno carcinoembrionário (CEA), amilase, lipase ou glicose do fluído do quisto aumentarem a precisão da ecoendoscopia para diferenciar um quisto mucinoso de um não mucinoso, a precisão diagnóstica desses biomarcadores é baixa para estabelecer o tipo específico de PCN. Além disso, o CEA não permite a distinção entre neoplasias quísticas mucinosas (NCM) e neoplasias mucinosas papilares intraductais (IPMN), nem permite a distinção de quistos mucinosos benignos daqueles com displasia de alto grau ou adenocarcinoma. Portanto, a análise do fluido do quisto deve ser considerada como um complemento da imagem e das características citológicas do quisto.

3º erro

Vigilância de longo prazo de todos os pacientes com neoplasias quísticas pancreáticas (PCN) A vigilância do PCN é determinada pelo risco de progressão para neoplasia. a) Pacientes com diagnóstico definitivo de quisto seroso não requerem vigilância devido à natureza benigna dessas lesões. b) Por outro lado, o risco de progressão de um quisto mucinoso (tanto MCN quanto IPMN) para displasia de alto grau e neoplasia aumenta com o tempo. Portanto, se não houver indicação cirúrgica, os pacientes com NMC ou IPMN devem ser acompanhados e vigiados a longo prazo. A vigilância a longo prazo apenas não é indicada para NMC ou IPMN, caso os doentes não sejam aptos para a cirurgia pelas suas comorbilidades ou tenham idade > 80 anos.

4º erro

Interromper a vigilância de IPMN e MCN demasiado cedo O risco de IPMN ou MCN progredirem para displasia de alto grau ou neoplasia aumenta ao longo do tempo, e a hipótese de desenvolverem indicações para cirurgia (sejam elas clínicas ou imagiológicas) também aumenta com o tempo. A vigilância de pacientes que têm IPMN ou MCN sem indicação para cirurgia, não deve, portanto, ser interrompida enquanto eles estiverem aptos para a cirurgia, mesmo que nenhuma mudança significativa seja observada após 3-5 anos.