João Caria; Ana C. Gonçalves; Gonçalo Cristóvão; Maria Carlos; Sara Magalhães; Vasco Almeida; Fernanda Moreno; Élia Mateus; Hélder Pinheiro; Diana Póvoas; Fernando M.T. Maltez; Rui Perdigoto; Filipe S. Cardoso; Hugo P. Marques1
1 Hospital Curry Cabral, Nova Medical School, Lisboa, Portugal
Com este estudo, pretendeu-se estudar o impacto da colonização e da infecção por Enterobacteriaceae resistentes a carbapenemos (CRE) nos resultados dos receptores de transplante hepático (TH). Este coorte observacional incluiu adultos consecutivos receptores de TH entre Janeiro de 2019 e Dezembro de 2020 no Hospital Curry Cabral, Lisboa, Portugal. As exposições primárias foram a colonização por CRE (esfregaços retais sob programa de rastreio) e a infecção por qualquer bactéria/fungo ou CRE dentro de um ano após o TH índice. O resultado primário foi a falência do enxerto dentro de um ano após TH.
Entre 209 doentes submetidos a TH, a colonização por CRE foi identificada em 28 (13.4%) doentes durante o primeiro ano após TH (número mediano (IQR) de esfregaços retais por paciente de 4 [2–7]). Os genes de resistência CRE identificados foram: OXA48 em 8 (3.6%), KPC em 19 (67.9%) e VIM em 1 (3.6%) doente. Infecções a qualquer bactéria/fungo ou a CRE foram diagnosticadas em 88 (42.1%) ou 6 (2.9%) doentes, respectivamente, durante o primeiro ano após TH. Após ajuste para factores de confusão, nem a colonização (aOR [95% CI] = 1.83 [0.71–4.70]; p = 0.21) nem a infecção por CRE (aOR [95% CI] = 1.35 [0.17–11.06]; p = 0.78) se associaram com a falência do enxerto dentro de um ano após TH.
Concluiu-se assim que, no contexto de um programa organizado de rastreio de receptores de TH, a colonização por CRE foi infrequente e não se associou com a falência do enxerto.
Resumo para leigos:
A colonização ou infecção por bactérias intestinais resistentes a antibióticos da classe carbapenemos é preocupante. Entre 209 doentes submetidos a transplante de fígado, a colonização ou infecção por estas bactérias multi-resistentes foi identificada em 28 ou 6 doentes no primeiro ano após o transplante. Nem a colonização nem a infecção por estas bactérias multi-resistentes aumentou o risco de perda do novo fígado até um ano após o transplante.