Miguel Bispo: Médico Gastrenterologista na Fundação Champalimaud, Lisboa. Em representação da Direção do Clube Português de Pâncreas (CPP), secção especializada da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG).
O presente artigo representa a perspectiva do Clube Português do Pâncreas sobre a abordagem clínica dos tumores neuroendócrinos do pâncreas. Este grupo de tumores merece especial destaque na comunidade científica ao representar um dos “icebergs da Medicina”, uma vez que estes tumores são maioritariamente assintomáticos e estão subdiagnosticados. A parte escondida do iceberg corresponde precisamente aos casos não diagnosticados, em que a doença é assintomática e oculta. A incidência dos tumores neuroendócrinos do pâncreas triplicou nos últimos 20 anos, devido à maior utilização de exames de imagem, principalmente a tomografia computorizada (TAC) e a ressonância magnética. Estudos em séries de autópsias documentaram a presença de pequenos tumores neuroendócrinos do pâncreas (a maioria microscópicos) em até 10% da população estudada. É uma prevalência impressionante, que denota que muitos destes tumores são indolentes e inofensivos. Torna-se assim fundamental estratificar o risco de malignidade e selecionar criteriosamente quais destes tumores poderão ser vigiados e quais deverão ser intervencionados cirurgicamente. É este o tema central do presente artigo, no qual o Clube Português de Pâncreas apresenta uma perspectiva atual sobre os fatores a considerar na decisão clínica para vigilância destes tumores e qual deverá ser a melhor estratégia a adotar.
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