Doente de 39 anos, sexo feminino com antecedentes conhecidos de colecistectomia por via laparoscópica em 2002, sem medicação habitual. Recorreu ao Serviço de Urgência por quadro de vómitos biliares e dor abdominal predominantemente no hipocôndrio direito, com quatro dias de evolução. Ao exame objectivo apresentava-se consciente, orientada e colaborante, hemodinamicamente estável, apirética, com pele e mucosas coradas e hidratadas, escleróticas anictéricas; abdómen livre, ruídos hidro-aéreos presentes, mole e depressível, ligeiramente doloroso à palpação profunda da região epigástrica e do hipocôndrio direito, sem massas palpáveis e sem sinais de irritação peritoneal. Analiticamente sem elevação dos parâmetros inflamatórios mas com alteração da bioquímica hepática (AST 427 U/L, ALT 689 U/L, fosfatase alcalina 336 U/L, gama GT 447 U/L, bilirrubina total 4.5 mg/dl, bilirrubina directa 3.8 mg/d). Efectuou ecografia digestiva que revelou discreta ectasia das vias biliares intra-hepáticas; VBP dilatada até à porção distal, não se identificando a causa da obstrução. Para melhor esclarecimento do quadro efectuou, de imediato, ecoendoscopia que confirmou a via biliar principal ectasiada (10.8 mm) identificando-se microcálculo móvel no lúmen distal, papila duodenal com discreta ectasia do canal biliar, cálculo intrapapilar com 2.7 mm (com cone de sombra) condicionando esta obstrução e exsudado peripancreático. Realizou de seguida CPRE com extração dos dois microcálculos previamente identificados.
Comentários:
Este caso clínico demonstra a elevada sensibilidade da ecoendoscopia na identificação de microcálculos biliares, realçando a importância de efectuar uma pormenorizada exploração da papila duodenal e confirmando a vantagem da realização de ecoendoscopia imediatamente antes da CPRE, reduzindo assim as complicações da última. Destaca-se o facto dos exames terem sido efectuados no próprio dia, de uma forma sistematizada, impedindo complicações relacionadas com o quadro clínico.
Autores
Antonieta Santos, Rita Herculano, Joana Carvalheiro, Eduardo Pereira
Hospital Amato Lusitano – Castelo Branco