O envolvimento com a nutrição surge naturalmente entre os gastrenterologistas, em várias perspetivas:
CIENTÍFICA
Os avanços dos últimos anos demonstraram que a nutrição humana é orientada pelo sistema digestivo em colaboração com o cérebro. O tubo digestivo é responsável pela digestão e absorção dos nutrientes. Grande parte das reservas energético-proteicas está situada no fígado, que as metaboliza e transforma ou liberta de acordo com as necessidades sistémicas. É também o fígado que produz as proteínas séricas capazes de transportar os nutrientes. A criação ou a mobilização de reservas depende de um vasto grupo de hormonas segregadas pelo tubo digestivo ou órgãos anexos. Temos vindo a compreender a forma como esta moderna endocrinologia digestiva controla os processos metabólicos e, em cooperação com o hipotálamo, os períodos de fome e saciedade.
Em doentes agudos e crónicos, o sistema digestivo está envolvido no desenvolvimento da anorexia decorrente dos estados inflamatórios. Por outro lado, alterações persistentes da secreção de hormonas e de mediadores de stress pelo tubo digestivo e anexos estão envolvidos na patogénese de doenças metabólicas como a obesidade. As variações da microbiota intestinal têm sido associadas à regulação metabólica, ao desenvolvimento da magreza ou obesidade, a múltiplas doenças metabólicas, neurológicas e sistémicas e, até, à modulação quantitativa e qualitativa do apetite. O sistema digestivo, com o tubo digestivo e a sua microbiota, pâncreas e fígado constitui, no essencial, o órgão da nutrição.
CLÍNICA
Os gastrenterologistas tratam as doenças digestivas agudas mais graves e as doenças digestivas crónicas. Períodos de doença com jejum, anorexia, restrições da ingestão alimentar, malabsorção e inflamação crónica têm impactos negativos muito significativos, associando-se facilmente à desnutrição.
TÉCNICA
Os gastrenterologistas contribuem regularmente com as suas intervenções técnicas para solucionar problemas nutricionais. Por um lado, contribuem para prevenir ou tratar a desnutrição em doentes com obstrução do tubo digestivo ou com compromisso segmentar da motilidade, colocando próteses, sondas gástricas e entéricas, construindo gastrostomias e jejunostomias e assegurando a nutrição entérica. Por outro lado, participam na terapêutica da obesidade, colocando balões intragástricos ou executando outras técnicas endoscópicas. A gastrenterologia é uma peça fundamental em nutrição clínica. Por todas estas razões os gastrenterologistas são chamados a intervir como especialistas em nutrição clínica e os
conhecimentos e a formação nesta área devem ser incluídos no treino básico dos internos e na formação contínua dos especialistas.
O curso de Nutrição em Gastrenterologia tem a duração de 2 dias, sendo maioritariamente destinado a Gastrenterologistas e internos de Gastrenterologia, mas também a médicos de diferentes especialidades, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas e outros profissionais que trabalhem em coordenação com os gastrenterologistas no acompanhamento de doentes gastrenterológicos.
Os objetivos do curso incluem:
O curso é realizado em formato presencial na sede da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia em Lisboa, desde janeiro de 2017, tendo ocorrido anualmente até 2020. Em março de 2022 teve lugar a sua 5ª edição. Está planeada a manutenção da sua realização no início de cada ano com uma periodicidade anual. O programa das edições anteriores pode ser consultado aqui.